quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O QUE EU ESPERO DO GOVERNO RICARDO COUTINHO


Um milhão, setenta e nove mil, cento e sessenta e quatro paraibanos declararam, no dia 31 de outubro de 2010, que desejam que seu estado seja governado por Ricardo Coutinho de 1º de janeiro de 2011 a 31 de dezembro de 2014.

Votar é isso mesmo, é como assinar uma procuração endereçada ao seu candidato preferido autorizando-o a tomar conta de grande parte da sua vida (saúde, educação, segurança, transporte, saneamento...) durante uma boa parcela dela.

Além do número de votos, Ricardo Coutinho se tornou o primeiro em vários aspectos.

O primeiro pessoense a se eleger governador pelo voto popular.

O primeiro representante dos movimentos sociais a conquistar o posto mais importante da política paraibana.

O primeiro candidato a conseguir unificar politicamente a Paraíba.

Outras “primeiridades” rondam esta eleição, mas fiquemos com estas que, por enquanto, são as mais significativas.

Tem se tornado praxe, ao final de todas as apurações, ouvir do vencedor a manjada frase “ontem eu era o candidato de alguns, hoje sou o governador de todos”. Perfeito. A idéia é essa mesmo e aí é que destaco a mais importante “primeiridade” relacionada com Ricardo:

Será, provavelmente, o primeiro governador que efetivamente governará para TODOS os paraibanos.

Quando a gente ouve certos políticos falando que não discriminam aliados e adversários, que estão abertos ao diálogo, que pretendem estabelecer uma relação de colaboração com todos, independente de suas opções partidárias ou ideológicas a gente sempre pensa: “quem come corda é relógio”.

Com Ricardo é enorme a possibilidade de, finalmente, termos, de fato, um governante de todos e tal pensamento não se deve apenas à disposição de Ricardo para sê-lo, mas, principalmente, à impossibilidade das forças contrárias para impedi-lo de ser.

De uma lapada só, Ricardo levou à lona uma das maiores e mais sorrateiras lideranças políticas regionais das últimas décadas, estancou o crescimento de outras que se apresentavam como sucessoras do espólio maranhista baseadas em uma modernidade que nada mais era que populismo vazio disfarçado de competência administrativa, acabou com a credibilidade de grupos e políticos afeitos ao “quem dá mais” e, para completar o círculo, atraiu para junto de si sem maior comprometimento de sua autonomia política e administrativa, a outra força política que polarizava as disputas de poder com o derrotado governador.

Assim, a não ser por alguns gatos pingados que pretendem continuar no exercício de uma oposição predatória, irracional e permanecer acreditando na possibilidade de soerguimento de um grupo político que antes mesmo de sua derrocada já apresentava sinais claros de  uma sobrevivência autofágica, a Paraíba deverá dividir-se, num futuro próximo, em:

OPOSIÇÃO, composta por aqueles que não aceitam o modo de fazer política do novo governador (a maioria, políticos ultrapassados e já mirados pelo olho crítico do eleitorado) e que não acreditam que benfeitorias efetivas para o estado possam resultar em ganhos do ponto de vista político, os que não têm coragem ou humildade para reconhecer que a política está mudando e que Ricardo representa esse novo jeito de se relacionar com as pessoas e os que levaram as disputas e derrotas para Ricardo e seus aliados para o lado pessoal e transformaram seu rancor em um ódio implacável e incontrolável. O pior, para eles, é que grande parte do que ainda resta de oposição é formada por figuras que congregam todas as possibilidades citadas.

SITUAÇÃO, formada por um grande cinturão de atores políticos, advindos de todos os setores da sociedade, que vão desde os remanescentes, como o próprio Ricardo, dos movimentos sociais de base, até os que, de origens diferentes, entenderam que houve mudanças elementares na forma de fazer política e que chegou a hora de dar o próximo passo, através de uma transição onde não apenas tenham ainda a sua parcela de participação, mas, principalmente, ao final da qual poderão levar consigo o sentimento gratificante de ter seguido pelo caminho da correção e da ética. Além desses, a ascensão de Ricardo provoca na sociedade uma espécie de catarse política na qual as pessoas voltam a acreditar na possibilidade de contribuir com seu povo através da participação da vida pública. Finalmente, como não poderia deixar de ser, a esse grupo se juntam, obviamente, os “garapeiros” políticos, que não hesitam em “pegar morcego” em um projeto no qual nunca acreditaram apenas para não perder o trem das benesses ou apenas a satisfação proporcionada pela sensação de poder. Esses últimos são ainda mais perigosos que os opositores, pois, tal como cupins de madeira seca, buscam, de maneira suicida, provocar o enfraquecimento da estrutura que lhes serve, ao mesmo tempo, de casa e comida.

A partir de agora vai ficar muito claro. Quem estiver verdadeiramente com Ricardo estará a favor da Paraíba e quem insistir em fazer-lhe oposição que não seja séria e programática corre o sério risco de, cada vez mais, ficar rotulado pela preocupação exclusiva com seus próprios interesses e/ou daqueles que lhe servem de alguma maneira.

Os que tentarem aliar-se – ou manterem-se aliados – pelo viés do fisiologismo também, conta a história recente, terão vida curta.

Depois, logicamente, de um período difícil, utilizado para tomar pé da situação – que deverá ser assustadora – e para fazer as necessárias correções de rumo em todos os setores, o governo de Ricardo Coutinho deverá surpreender a Paraíba em primeiro lugar pelo alcance de suas políticas públicas, que irão, certamente, atingir de forma indistinta a todos os paraibanos. Em segundo lugar, a nova administração se destacará pelo volume de ações em todas as áreas, graças não apenas à competência no desenvolvimento de projetos e na capacidade de executá-los, mas, principalmente, às condições que serão proporcionadas pela diminuição da corrupção violenta da qual o Estado é hoje vítima indolente e pela busca constante da profissionalização dos serviços públicos.

A máquina encolherá com a saída de uma verdadeira horda de "babões", "chaleiras", apadrinhados e parasitas utilizados pelo derrotado governador para tentar cooptar famílias, grupos e regiões como cúmplices de seus saques aos cofres públicos. Isso fará com que haja recursos não apenas para tratar melhor os que realmente têm compromisso institucional com o serviço público, mas também para investir na melhoria desse serviço.

Não há dúvidas de que haverá insatisfações, como houve na prefeitura de João Pessoa quando o então prefeito propôs a determinadas categorias que cumprissem o essencial de suas funções, ou seja, comparecer e permanecer em seus locais de trabalho, exercendo as funções para as quais são remunerados, nos dias e horários estabelecidos pelos seus vínculos empregatícios. Vai demorar um pouco pra muita gente entender isso...

Acreditamos que a meritocracia efetivamente será praticada na futura gestão e que não nos sentiremos constrangidos, como eleitores e apoiadores do projeto, com a presença de figuras carimbadas de outras gestões, que venham a ocupar espaços importantes para o bom andamento do governo em virtude apenas de suas relações pessoais com “parceiros” políticos ou dos esforços concentrados ao longo da campanha.

Ao que tudo indica, finalmente terão fim as permanentes reuniões de diretoria de órgãos públicos em restaurantes chiques (ou nem tanto) e os despachos etílicos em mesa de bar.

Os que mostraram capacidade e desprendimento ao longo da campanha serão convidados a mostra-los por mais quatro anos e serão cobrados por isso.

Para onde não houver disponibilidade “em casa” de nomes e competências que possam suprir necessidades deverá haver pesquisa e parceria com campos de conhecimento e atuação que possam atendê-las.

Assim acredito que será o futuro Governo da Paraíba, porque assim é o passado de Ricardo Coutinho e assim é o compromisso de Rômulo Gouvêia e todos os demais componentes desse projeto que já se mostrou extremamente competente ao combater em completa desigualdade de forças uma estrutura que não apenas detinha maior poder econômico, mas que, tristemente, optou por utilizá-lo da forma mais vil e irresponsável jamais imaginada.

Parafraseando Victor Hugo, O futuro tem muitos nomes. Para os incapazes, inalcançável; para os medrosos, desconhecido; para os valentes, oportunidade, para o povo da Paraíba, Ricardo.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

RICARDO GOVERNADOR: A PARAÍBA NÃO MERECE!


Um estado que deu a José Maranhão 55 anos de mandatos eletivos consecutivos, que assistiu a sua ascensão ao governo em 1995, que acompanhou a convenção do PMDB em 1998, que viu seu esforço para conseguir a cassação de seu opositor em 2009 e que lhe conferiu 933.754 votos no último dia 3 não merece Ricardo Coutinho como seu governador.

A Paraíba PRECISA de Ricardo Coutinho governador!

A Paraíba precisa, pela primeira vez em quase 30 anos, voltar-se para o que é realmente novo e adotar, para o bem do seu povo, uma postura racional e responsável em relação à sua administração governamental.

O povo mais pobre precisa livrar-se do jugo dos coronéis que um dia o tratou como gado, não de corte, não de leite, mas de voto, aproveitando-se da miséria, da fome, da ignorância e, sobretudo, da ingenuidade da nossa gente para buscar a todo custo a eternização no poder, que só foi possível precisamente por causa da manutenção do estado de indecência social por eles mesmos estabelecido.

A classe média precisa acordar e entender que também é afetada pela incompetência e desonestidade dos ocupantes do poder, independente de laços de amizade ou gratidão, das relações familiares ou da dependência representada por um emprego, um contrato ou uma benesse; precisa aprender que eleição não é campeonato de futebol, onde a gente faz parte de uma torcida que defende sua camisa a todo custo, de maneira emocional, mesmo sabendo que ela está sendo vestida por “atletas” afeitos à corrupção, à mentira e ao fisiologismo. Se o gol for de mão, se a tática é baseada na violência, se o juiz está comprado, a vitória deve perder o sentido, porque o troféu em disputa é o controle de aspectos muito importantes das nossas próprias vidas.

Os ricos necessitam aprender que a sua qualidade de vida não pode ficar restrita ao interior dos altos muros energizados de suas mansões ou ao conforto de seus gabinetes refrigerados. Precisam se tocar que chique não é carro blindado, chique é carro conversível. É preciso inverter a lógica dominante para concluir que o progredimento de um grupo não é ditado por quem está no alto da pirâmide, mas, isto sim, pelos que estão na sua base – que a sustenta.
Os jovens precisam refletir principalmente sobre o futuro e observar o que o estado está fazendo e o que poderia fazer para que eles tenham de maneira efetiva as oportunidades que precisam para alcançar seus objetivos de vida mais importantes.

A Paraíba precisa pensar.

Que avanços tivemos recentemente que possam nos proporcionar algum tipo de orgulho do governo que temos?

Que grande obra estruturante – daquelas que geram emprego e renda, desenvolvem a economia ou mudam para melhor a vida de grandes parcelas da população – foi feita na Paraíba nos últimos anos?

A pergunta principal a ser feita é: se a Paraíba evoluiu nos últimos anos como tenta nos convencer o governo atual, porque ainda sofremos com uma estrutura de segurança inerte, uma educação vergonhosa, um sistema de saúde caótico e um déficit habitacional assombroso?

O que temos na Paraíba nos últimos meses não é um governo, mas um grande comitê eleitoral montado em pleno Palácio da Redenção, com representações em todos os órgãos públicos estaduais e, mais triste ainda, em órgãos do governo central e em diversas prefeituras ligadas ao governo estadual.

Não é novidade algum tipo de aparelhamento estatal para garantir sucesso em processos eleitorais, mas na Paraíba, desta vez, todos os limites do bom senso e do respeito à república foram jogados no lixo.

Pessoas morreram por falta das ambulâncias que foram retiradas por causa da negativa de apoio de alguns prefeitos.

Pessoas morreram por causa do fechamento de hospitais em cidades cujos prefeitos não atenderam aos chamados da “granja”.

Pessoas morreram em virtude das greves de policiais, de defensores públicos, de médicos...

PESSOAS MORRERAM!!!

O que justifica deixar morrer – que, para mim, é a mesma coisa que matar – pessoas para conseguir a sobrevida de uma estrutura de poder comprovadamente incompetente, marcada por episódios da mais pura incúria não apenas com o patrimônio estatal, mas, sobretudo, com os reais proprietários desse patrimônio?

Setores do governo foram tomados por verdadeiras quadrilhas de saqueadores frios, inescrupulosos e, pior, incompetentes, que utilizaram seus gabinetes como espécies de mercados de almas, comprando vontades e decidindo destinos baseados apenas na necessidade irracional de um pequeno ditador de meia tigela de alimentar seu orgulho com os xurumbambos e badulaques do que deve acreditar que seja seu pequeno reino, mas que não consegue tratar senão como mais uma de suas fazendas, embora por estas deva ter, provavelmente, maior zelo e estima, pois que se não fosse assim seu patrimônio particular não se multiplicaria exponencialmente, como, de fato, tem acontecido (ou será que foi por outro motivo?).

Esta campanha foi marcada pelo uso das mais condenáveis táticas de aliciamento e assédio moral, social e político. Barreiras que deveriam ser consideradas intransponíveis até pelo mais odiento delinquente foram derrubadas pelos pontapés de chefes desatinados e subalternos sem qualquer noção do que seja caráter ou ética.

Lançaram mão de estratégias de desinformação dignas do II Reich de Goebels e Hitler, porém sem qualquer embasamento científico e com carga de irresponsabilidade própria das fofocas de ingênuas maricotas de ponta de calçada. Os tiros saíram pela culatra e, ainda por cima, atingiram-lhes os dois pés.

Devemos admitir que nas últimas décadas foram realmente muito poucos os avanços de nossa estrutura educacional na formação de cidadãos mais conscientes, responsáveis e críticos.

Foi pouco, mas foi suficiente.

O povo entendeu as mensagens transmitidas pelos dois projetos apresentados. De um lado uma carreira política baseada na verdade, no trabalho, na ética, na sinceridade e, sobretudo, na honestidade. De outro, uma vida eivada de ingratidão, trairagem, fisiologismo, sofismas e cavilações de todos os piores tipos, algumas surpreendentes até para os mais fiéis seguidores de Maquiavel, frutos de mentes não apenas criminosas, mas, mais do que isso, doentias e extremamente rancorosas e vingativas.

Até com a religiosidade do povo tiveram a coragem de brincar, o que só demonstra que podem até ter ouvido falar e, teatralmente, encenado acreditar e praticar, mas não conhecem nem em hipótese o verdadeiro significado teológico e filosófico da religião e, sobretudo, os mais simples conceitos das mais basilares mensagens professadas pelas mais diversas crenças, incluindo aí, com muito respeito, aquelas adotadas pelas religiões de matriz africana.

Negativo com negativo só é igual a positivo na matemática, porque na política o resultado é a derrota.

Assim tem sido desde sempre e cada vez mais sempre será.

No próximo domingo a Paraíba tem uma tarefa difícil a cumprir. Difícil, mas muito prazerosa e dignificante. O povo paraibano tem a responsabilidade de mudar a direção de seu próprio destino das trevas para a luz, do ruim para o bom, da mentira para a verdade, do passado para o futuro.

Mais de três milhões de brasileiros poderão dormir do domingo para a segunda com seus corações e mentes cheios de esperança no futuro e certeza do dever cumprido.

Certeza de que terão à frente de seus destinos como cidadãos um homem sério, honesto, trabalhador, cristão, íntegro em suas convicções e comprometido com o futuro de sua gente.

No próximo domingo os eleitores da Paraíba têm a chance de mandar um recado alto e claro para os que ainda a consideram, no todo ou em parte, uma província, um terreiro de sua fazenda, uma senzala anexada à sua casa grande.

A Paraíba pode, no próximo domingo, avançar mais do que jamais avançou em toda sua história, com a união de suas mais importantes regiões em torno de um projeto político que, mais do que em idéias interessantes, baseia-se numa experiência administrativa inegavelmente bem sucedida e em um projeto político alinhado com o que há de mais interessante na agenda política mundial, no que se refere à erradicação da pobreza, ao fortalecimento da identidade cultural, à responsabilidade socioambiental, à dinamização do serviço público e ao efetivo combate à corrupção.

Mais do que a posição individual de cada um, o resultado grandioso da vitória de Ricardo Coutinho deverá, inexoravelmente, mudar os ventos do progresso e trazer a Paz e o Bem para todos nós.

A Paraíba precisa. Ricardo, governador, 40!

sábado, 16 de outubro de 2010

Porquê eu voto 45

Esta campanha eleitoral tem me surpreendido por vários motivos.

Em nível nacional, não deixa de ser interessante ver que Lula não conseguiu, com a facilidade que pretendia, enfiar goela abaixo dos brasileiros uma candidata que, apesar de sua inegável competência executiva, representa o que de pior existe no governo petista, pois conviveu e participou de uma gestão onde todos os níveis da administração federal foram loteados entre partidários e, mais grave, terceirizados para partidos que têm como principal interesse a ocupação de cargos para exercer o poder pelo poder ou, pior, o poder pelo dinheiro (jamais o poder pelo bem do povo), principalmente o PMDB, hoje dominado por vergonhas da nossa vida pública, como Sarney, Temer e Renan.

Lula tem valor, e muito! Foi o presidente que desmistificou o cargo e provou que o executivo é movido, na verdade, pelo que costumamos chamar tão frequentemente de “vontade política” e não por competências administrativas, econômicas ou sociológicas. Para isso, como em qualquer lugar, existem os executivos.

O problema da postura de Lula e suas vontades, indiscutivelmente centradas na melhoria da qualidade de vida do povo mais pobre, é que ele assumiu a postura do “querer é poder”, que diminuiu muito a característica republicana do nosso país, tornando-o uma espécie de reinado pós-moderno, onde Lula é o Estado e, graças ao seu inegável comprometimento com as classes mais baixas e, não se engane, mais poderosas, afinal são elas as responsáveis pelo tão apreciado "índice de popularidade" – moeda de alto valor mesmo nas tiranias romanas – criou-se no Brasil a idéia de que criticar o governo é criticar Lula (um erro, já que, efetivamente, Lula não tem como controlar minuciosamente todas as ações governamentais, o que o tem, inclusive, salvado de poucas e boas, mas, também, lhe trazido méritos que não são seus). Desta forma foi semeada a idéia de que ir contra Lula é ir contra o povo brasileiro.

E assim ultrapassamos talvez os mais graves escândalos políticos da história nacional, que vão da morte do prefeito petista de Santo André, Celso Daniel, até hoje não esclarecida oficialmente, embora absolutamente aparente para quem quiser saber; até o assombroso caso do Mensalão, onde os mais altos cargos do governo sucumbiram diante de provas patentes e o verdadeiro chefe da quadrilha permaneceu intocado, inclusive após ter pedido pela intercessão subterrânea, para o bem da estabilidade institucional, de seu maior desafeto, FHC.

E assim se passaram oito anos de escândalos (Banco BMG, GameCorp, NOROSPAR, SEBRAE, VARILOG, OPORTUNITY, FURNAS, DNIT, PROER, KROLL, MARKA/FONTECIDAM Valerioduto, bingos, Correios, cartões corporativos, fundos de pensão, dólares na cueca, Banco Santos, Cartilhas do PT, ABIN, Sanguessugas, Aloprados, FARC, MST, Renan Calheiros, quebra de sigilo de Francenildo, Sarney e vários outros. – basta “dar um google”). Vivemos hoje num país onde o legislativo não cria mais leis, apenas aprova medidas provisórias. Partidos lutam por cargos em comissões que geram boas comissões e seus membros mendigam por emendas ao orçamento ou se prostituem diante do lobby não apenas de segmentos que, embora produtivos, são inescrupulosos (indústria farmacêutica, automobilística, alimentícia, pecuária, extrativista, sistema financeiro etc) mas, também, defendem interesses escusos de igrejas, do tráfico, das máfias, do crime organizado etc.
Até as CPIs formadas para apurar as fraudes são fraudadas pela maioria do governo e por acordos de bastidores, que ainda são os motores e freios da verdadeira política brasileira.

O judiciário está contaminado. A maioria dos ministros foi indicada pelo atual governo e os níveis de competência, isenção e imparcialidade dos magistrados são, em vários casos, duvidosos.
Sempre que se fala em corrupção, escândalos, fraudes e qualquer crime de colarinho branco os governistas recorrem ao argumento do fortalecimento da Polícia Federal e que os casos estão sendo apurados, mas não é incomum ouvirmos falar sobre delegados afastados, transferidos e, em casos extremos, mortos.

E já houve algum julgamento? Alguém está cumprindo pena?

Juízes de primeira instância, quando não se dobram – o que já é difícil – têm sido atropelados pelas instâncias superiores e as mais altas cortes, cada vez mais frequentemente, têm se tornado cenários de discussões que mais parecem brigas de mesa de bar (isso quando os ministros não estão, literalmente, pelas mesas dos bares).

Não custa lembrar que TODOS os grandes escândalos da república brasileira nos últimos anos foram descobertos (por investigação própria ou seguindo denúncias) e publicitados pela IMPRENSA e alguns outros poucos, menos importantes, surgiram por acaso durante outras investigações.
Pare. Pense. Você se lembra de algum escândalo descoberto nos últimos oito anos que não tenha sido antes publicado em algum meio de comunicação para, só depois, ser investigado pela PF?

E quando chega na PF, pára.

E se não parar na PF, pára na Justiça.

E assim, o que Lula não quiser que aconteça, simplesmente não acontece.
O que não significa também que tudo que ele quer simplesmente funciona.

Ninguém fala, mas o Fome Zero foi um grande fracasso! No começo até festa de 15 anos arrecadava alimentos para o programa. Depois saiu de moda e o povo continua com fome. Ou você acha pelo menos razoável que ainda tenhamos mais de 20 milhões de pessoas vivendo em pobreza ABSOLUTA? (enquanto a gente fica aqui reclamando da velocidade da banda larga).

O problema é quando o Lula quer alguma coisa e essa coisa não acontece. Aí ele “faz acontecer”, como está fazendo na hidrelétrica de Belo Monte. Nenhum consórcio demonstrou interesse em fazer com seu próprio dinheiro, ele pegou o NOSSO dinheiro, lá no BNDES, deu para um consórcio que nem teria dinheiro, se quisesse, e mandou fazer. Não tem como dar certo um negócio desses...

Se o Brasil fosse o que Lula quer que a gente acredite não estaríamos assistindo uma campanha onde só se fala de segurança, drogas, saúde, educação, transporte e moradia. Já estaríamos discutindo cultura, meio ambiente, turismo, novas tecnologias, qualidade de vida.

Se o Brasil mudou tanto e Lula foi tão capaz de provocar mudanças, onde estão as reformas prometidas? (tributária, previdenciária, agrária, política e constitucional)

E não adianta dizer que não há força para isso, pois se houve força para manter o Sarney na presidência do senado, nada mais é impossível para Lula.

O problema é que disseram isso a ele e ele resolveu que, ao invés de deixar o Brasil dar o próximo passo, iria colocar todo o seu poder à prova e eleger alguém que a população simplesmente não sabe quem é e, pior, não tem como saber, porque, efetivamente, não tem o que mostrar.
O resultado do primeiro turno mostrou que Lula não elege um poste.

A evolução do segundo turno mostra que Dilma não consegue ser mais expressiva do que um poste.

O rumoroso caso do aborto é um exemplo de que não há firmeza de caráter na candidata. O problema, como José Serra já cansou de repetir, não é ela defender a descriminalização – o que foi largamente comprovado – mas ela mudar de opinião e não assumir a opinião anterior.

Essa falta de disposição para se mostrar humana, capaz de evoluir ou de voltar atrás é o que tem se mostrado como a grande diferença de Dilma em relação a Lula. Se fosse ele, ele simplesmente diria que já foi a favor, mas conversou com alguém (provavelmente ele diria que foi com dona Marisa, pra dar uma emotividade ao tema) e que mudou de idéia. Pronto, próximo assunto!

Mas Dilma, não. Ela não assume suas opiniões de antes não porque não admite que mudou, mas porque na verdade ela ainda as têm, guardadas sob as treze capas que usa para esconder sua verdadeira personalidade, que várias pessoas que conviveram com ela classificam como autoritária, arrogante e ditatorial. O que uma ministra que manda um colega ministro se calar durante uma reunião com todos os outros ministros e secretários não deveria fazer na privacidade de seu gabinete?

E o que não seria capaz de fazer como presidente?

Não quero saber. Por isso não voto nela.

Não voto por causa dela, mas, principalmente, por causa da decepção que foi Lula no momento mais importante de sua carreira política: aquele em que decidiu que iria impor seu sucessor ao invés de dar ao povo que tanto ama e que tanto o admira a liberdade para escolher um projeto que pudesse aproveitar os avanços criados pelo seu governo na área social e fazer um fechamento glorioso, através da junção com as conquistas econômicas do governo anterior, que resultariam no próximo passo, com um governo de reformas e, principalmente, de convergência entre as forças progressistas espalhadas por todas as legendas partidárias e em outras instituições não menos importantes, como o terceiro setor, os movimentos sociais e a academia.
Seria a mais bela decisão de toda a sua vida se Lula tivesse, antes do final do seu governo, criado um grande fórum de discussão política onde se pudesse formatar, com a participação de todos – não apenas políticos –, um grande projeto social, político, econômico e social para o Brasil dos próximos anos.

Não tenho nenhuma dúvida de que no âmbito da própria discussão surgiria um nome de consenso que pudesse levar à frente o projeto e as verdadeiras bandeiras do avanço do Brasil e do seu povo.

Mais do que não votar na candidata de Lula, eu tenho certeza desde já que não votarei mais no próprio Lula, pois não tenho nenhuma dúvida de que ele pretende voltar e nem sei se sua idéia não é retornar como o salvador da pátria após um governo autoritário e sem popularidade.

Afinal, a idéia é essa mesmo: um governo que não tenha a mesma capacidade que Lula de ser popular, para que ele possa voltar sem medo, daqui a quatro anos, não para dar um choque de gestão – como de praxe – mas para dar, isto sim, um choque de popularidade (o que não pode ser considerado critério para balizar uma administração. Muito pelo contrário!).

Vou votar 45 – José Serra, não porque ache que ele seja o melhor candidato, mas por ter certeza de que ele será bem melhor do que a Dilma, sem interferências de Lula e, principalmente, dos generais petistas e dos coronéis peemedebistas.

Vou votar 45 porque se o PT, com a Polícia Federal e o judiciário nas mãos, não conseguiu descobrir escândalos que pudessem fulminar a carreira de Serra e o PSDB, eles efetivamente não devem existir (ou os tucanos são mais competentes que os petistas até nisso?).

Vou votar 45 porque o PSDB governou nos últimos doze anos o estado mais importante, rico e populoso do Brasil e o manteve nessas condições mesmo sendo oposição ao governo central e lutando contra incentivos oferecidos por vários outros estados e regiões.

Vou votar 45 porque me dei ao trabalho de examinar os currículos públicos dos candidatos ao cargo. O de José Serra o habilita de forma indiscutível para o cargo pretendido e o de Dilma Roussef, além de ser baseado apenas no seu QI (quem indica) tem vácuos inquietantes e já foi marcado por mentiras inaceitáveis (como o caso do doutorado mentiroso).

Vou votar 45 porque sei que José Serra, mesmo com toda a competência, jamais conseguirá ter do povo a mesma simpatia que Lula teve e, por isso, jamais conseguirá manipular a opinião pública como Lula tem tentado e, em grande parte, conseguido ao longo dos últimos anos.

Finalmente, vou votar 45 porque não tenho mais como votar 43.

domingo, 8 de agosto de 2010

VENDO MEU VOTO


A todos os políticos candidatos a cargos eletivos nas próximas eleições, venho singelamente fazer minha proposta de venda de voto, garantindo ainda, além do meu, trabalhar ativamente para arregimentar outros sufrágios, sem qualquer custo adicional.

Como, pelo que tenho ouvido falar, a situação está difícil e não está sobrando dinheiro para pagar bem por um voto, para facilitar, proponho uma permuta. Ou seja, pode pagar em serviço.

Os candidatos que se comprometerem com as propostas a seguir já podem contar com o meu voto.

1 - Formação do ministério, secretariado e de todos os cargos até terceiro escalão por absoluto critério meritocrático, através de comissões de notório saber convocadas para selecionar os ocupantes, cabendo ao presidente ou governador escolher entre listagens previamente estabelecidas e submetidas a consulta pública;

2 - Ocupação de cargos executivos exclusivamente por funcionários de carreira, mediante análise detalhada da folha funcional (através da criação de um SPC - Sistema de Proteção ao Contribuinte) e submissão dos nomes a consulta pública;

3 - Limitação dos cargos comissionados para não concursados a 3% do total do número de funcionários, por setor;

4 - Implantação do ponto eletrônico biométrico em todo o funcionalismo público (executivo, legislativo e judiciário), com divulgação online de informações sobre assiduidade e pontualidade de todos os funcionários, inclusive cargos públicos adquiridos por votação popular em todos os níveis (vereadores, prefeitos, governadores, deputados, secretários, ministros, presidente etc.).

5 - Limitação do salário para ocupantes de cargos públicos a 10 salários mínimos (atualmente R$ 5.100,00) e fim do salário para vices e suplentes.

6 - Divisão igualitária absoluta dos impostos federais para as 27 unidades da federação, independente da participação de cada uma delas na arrecadação;

7 - Acesso público irrestrito às finanças públicas, com o fim do sigilo bancário para contas de órgãos públicos (executivo, legislativo e judiciário), divulgação diária dos extratos dessas contas e divulgação mensal da folha de pagamento, com o nome, cargo e salário de todos os servidores concursados e contratados.

8 - Federalização da Segurança e unificação das polícias (inclusive rodoviária) – com a consequente equiparação salarial.

9 - Fim do Senado Federal.

10 - Equiparação dos investimentos em Educação à média dos índices praticados pelos cinco países melhores colocados no índice do PISA - Programme for International Student Assessment, com acompanhamento em todos os níveis (federal, estadual e municipal) por comissões formadas por representantes de organizações da sociedade civil, membros de sindicatos e entidades internacionais.

11 - Proibição para detentores de cargos públicos e seus parentes em primeiro grau de frequentar instituições de ensino privadas.

12 - Restruturação do Sistema Único de Saúde, com o descrendenciamento de todos os hospitais particulares e o consequente fortalecimento da rede de hospitais públicos, criação de uma policlínica para cada 50 mil habitantes, um hospital de baixa e média complexidade para cada 100 mil habitantes e um centro de alta complexidade para cada 500 mil habitantes, com investimento mínimo de 20% do orçamento da União em ações de prevenção e tratamento de saúde, inclusive com a garantia integral de medicamentos para todos os pacientes da rede pública.

13 - Proibição para detentores de cargos públicos e seus parentes em primeiro grau de contratar planos de saúde privados.

14 - Fim do Bolsa Família e criação de centros e grupos de ação social, com a capacitação e contratação de todos os beneficiários com idade e condições produtivas para atuar em ações comunitárias, sociais e culturais e projetos governamentais.

15 - Instituição do ensino em tempo integral em todas as escolas públicas do Brasil, com ensino profissionalizante em um turno a partir do 2º ano do ensino médio.

16 - Fim do quinto constitucional em todos os níveis do judiciário e obrigatoriedade para Defensores Públicos, Procuradores, Juízes, Desembargadores, Ministros e todos os demais ocupantes de cargos que exijam formação superior em Direito de fazer, a cada cinco anos, o Exame da Ordem.

17 - Fim da reeleição para o poder executivo e limitação a uma reeleição para o legislativo.

18 - Instituição de testes de avaliação psicológica para candidatos ao vestibular de medicina e em concursos públicos, com ênfase para as áreas de saúde, segurança, educação e justiça.

19 - Limitação da carga tributária sobre produtos da cesta básica e livros a 10% e fim dos impostos e taxas de importação para medicamentos.

20 - Obrigatoriedade de recolhimento de produtos usados para todos os fabricantes de produtos eletro-eletrônicos e que sejam constituídos por mais de 50% de matéria prima não biodegradável.


Caso o candidato queira se comprometer com estas propostas e ficar com o meu voto (e de mais um monte de gente), basta registrar em cartório um compromisso para que, no caso de descumprimento, qualquer cidadão (principalmente eu) possa entrar com processo de cassação de mandato com afastamento imediato do cargo até o julgamento do mérito em última instância.

Pra começar, é isso...

segunda-feira, 7 de maio de 2007

1, 2, 3. MICARANDE OUTRA VEZ!

DESAFIO
Essa história de escrever coluna – por mais esporádica que seja – em um portal de sucesso e prestígio como o iparaiba traz consigo uma responsabilidade que é inerente a qualquer um que se atreva a militar na parcela mais importante da imprensa, na qual se inserem hoje, com grande destaque, os bons portais de notícias.

ELA DE NOVO
Ao usar como tema de duas colunas passadas a Micarande, nas quais expressei críticas ao evento, suscitei algumas reações inesperadas, não que eu duvidasse da alta e qualificada audiência do portal, mas porque não sabia que tanta gente se dava ao trabalho de ler o que escrevo.

BOAS E MÁS
As reações boas são sempre as mais fáceis e prazerosas de ouvir (e ler). Nelas recebi de pessoas conhecidas, ou não, reflexões a respeito do tema, concordando, pelo menos em grande parte, com minhas opiniões. Algumas más reações são dignas de todo o respeito, quando baseadas em opiniões firmes ou fundamentadas em dados inegáveis. Estas também vieram e foram ouvidas (e lidas) com muita atenção.

DESAFIADORAS
Mas há os desafios. Vindos de várias pessoas que me perguntaram se, já que eu estava criticando, por que não sugeria o que seria viável no caso do fim da Micarande. Passada a festa procurei “ficar na minha”. Muita gente criticando, muita gente defendendo e eu calado (de dedos quietos), pois já tinha escrito tudo o que tinha a dizer.

E AÍ?
Mas até agora algumas pessoas que teimam em ler o que escrevo me perguntam se a Micarande confirmou mesmo o que eu previa e, em confirmando, o que eu achava que deveria ser feito. Até recebi um e-mail de um cidadão que me parece muito lúcido e se declara completamente apartidário propondo-me que divulgue minhas idéias para ver se alguma das instituições que defende o fim da Micarande a transforma pelo menos em um projeto para ser discutido publicamente.

ENTÃO TÁ!
Sendo assim, deixando de lado a minha vontade de não mais falar do tema, até para não ser mais acusado de servir a quem não me serve, vou tentar aqui expor de forma simples e sem muitos rodeios o que vejo como solução para o que interpreto ser o ocaso e, por conseqüência, inevitável fim da Micarande.

CÂMBIO
Da última vez em que versei sobre o tema fiz questão de enfatizar que não defendo o fim, puro e simples, do nosso carnaval temporão. Acredito na possibilidade de que venha a ser a maior marca do governo de Veneziano não a extinção da Micarande e sim a criação de um novo evento, mais moderno, abrangente, cultural, democrático e com maior potencial de tornar-se perene.

ÉPOCA
Para começar, acredito que a Micarande é meio fora de época mesmo, senão vejamos: no primeiro semestre a agenda de Campina tem os grandiosos eventos “sagrados” e “profanos” do carnaval, logo em seguida já vem a Micarande e depois o São João. Já no segundo semestre contamos com o valioso Festival de Inverno e só vamos ver algo grandioso novamente nas festas natalinas. Agosto, setembro, outubro e novembro na maior morgação...

PARABÉNS
No aniversário de Campina, que por acaso cai numa data extremamente favorável, pois sempre tem o feriado de Nossa Senhora Aparecida por perto, até hoje não se conseguiu emplacar nada de significativo. Patinamos em vários “eventos de outubro” mas nenhum realmente “fechou de cadeado”. A cidade ainda não tem a festa que merece.

CALENDÁRIO
Pois minha primeira proposta seria justamente esta: a mudança da festa do período de abril para outubro, primordialmente nos dias 11 e 12 de outubro ou, no mínimo, no final de semana mais próximo a eles; e sempre com duração de quatro dias, de preferência de uma quinta a um domingo, exatamente como a Micarande.

LOCAL
O Parque do Povo, sem dúvidas! Mas com algumas mudanças estruturais significativas, a começar pela Pirâmide, que nestes dias perderia pelo menos uma parte da sua cobertura para que pudesse ser transformada no palco da festa. Sob o nosso cartão postal seria instalada toda a parafernália de som e luz, camarins, salas de apoio e coisas do tipo.

GRANDIOSO
A exemplo do que ocorre em shows realizados na Praça da Apoteose, a estrutura marcante da Pirâmide já seria uma grande marca do evento, ainda mais com a aplicação sobre a mesma de recursos de iluminação, pirotecnia e, lá embaixo, de um enorme palco giratório, também comum em vários eventos da mesma natureza.

PLATÉIA
Os espaços para a platéia seriam três. O primeiro e sagrado seria o chão calçado do vão central do Parque do Povo, onde o povo ficaria à vontade para acompanhar a toda programação de forma privilegiada. O segundo seria uma grande plataforma, junto ao Centro Cultural, onde seriam instaladas centenas de mesas de pista, com serviço de restaurante, para o pessoal mais “família”. Finalmente, camarotes, instalados no mesmo lugar onde o são na Micarande, para acomodar autoridades, convidados de empresas, patrocinadores e festinhas particulares de colunistas descolados.

IMPRENSA
Confortavelmente instalados na sacada do Centro Cultural, os órgãos de imprensa poderiam fazer sua cobertura tranqüilamente e para acesso aos demais locais da festa eu me atreveria a propor a construção de um túnel de serviço que ligasse o Centro Cultural aos camarotes e à Pirâmide. Túnel este que, aliás, também seria muito útil durante o São João.

ACESSO
Para garantir ao evento segurança e PAZ, a arena central deveria ser cercada, como acontece no Natal, e só poderiam entrar as pessoas que passassem pelos detectores de metal instalados e que apresentassem um documento de identidade a um sistema que capturasse suas imagens. Este sistema também já existe, mas eu garanto que ali na UFCG tem gente que desenvolve um melhor.

ARRECADAÇÃO
Eu até sugeriria que a entrada do “povão” fosse condicionada à doação de um quilo de alimentos, mas como os famintos também têm sede de cultura outras formas de captação de doações podem ser estudadas, por exemplo, como a troca de alimentos por camisetas para uma “área vip”, ali pertinho do palco, no “gargarejo”. Seria um “Laranja Cravo” parado – e lotado.

PROGRAMAÇÃO
Pronto, temos a arena, o palco, as mesas, os camarotes, as cabines, o túnel... Mas e as atrações? Como fazer com que a festa não sofra do mal da Micarande, que passa por mal bocados sempre que o axé entra em crise ou que suas maiores estrelas “se confundem” no agendamento de seus compromissos? A resposta é MODA E TRADIÇÃO! O povo gosta de moda. Canta o que está na moda, dança o que está na moda, mas também há músicas e artistas que não saem de moda nunca. Este balanceamento seria o diferencial do evento, pois que ele seria público e, portanto, não completamente dependente do mercado.

SUPOSIÇÕES
Exercitando um pouco de criatividade e conhecimento do mercado do show-business, poderemos aqui brincar um pouco de propor algumas situações, com cinco momentos diferentes e musicalmente temáticos. Consultando o calendário e verificando que este ano o aniversário da cidade cai na quinta e o feriado das crianças na sexta, eu poderia visualizar o que seria interessante para uma primeira edição do evento.

QUINTA-FEIRA (11/10)
No aniversário da cidade, véspera de feriado, eu imagino uma noite de abertura mais tradicional. MPB! Começando a noite, as estrelas da nossa música local. Kátia e Gabimar, Tony Dumont, Fidélia Cassandra, Tan, Fábio Dantas e tantos outros, juntos, em um show de celebração à cidade. Logo depois, quem sabe, Djavan, Milton Nascimento, Emílio Santiago, Ana Karolina, Zeca Baleiro, Maria Betânia, Caetano, Gil ou Ney Matogrosso? Um destes seria ótimo. Dois ou três seria um estouro!

SEXTA-FEIRA (12/10) – TARDE
Dia das Crianças merece programação especial. A tarde seria delas, quem sabe com a volta da “talentosa” Kelly Key, junto com seu “ex-amor” Latino. Ou a Turma do Didi, quem sabe. Talvez ano que vem, num sábado, pudesse ser Xuxa!

SEXTA-FEIRA (12/10) – NOITE
Sexta tem cara de boate! E o Parque do Povo poderia ser transformado em uma neste dia, com a presença de alguns deejays nossos, como a galera do projeto Maquinaria, e outros, da pesada, que animam as pistas mais animadas do Brasil e do Mundo, além daqueles artistas que fazem ferver ao vivo, como Edson Cordeiro, Ed Motta ou o bom e velho Benjor! É pra se esbaldar...

SÁBADO (13/10)
O sábado é pop! A festa começaria com as nossas estrelas rockeiras, como HiJack, Senhoritas, Cabruêra, Artigo 5º e outros tão bons quanto. E pra levantar poeira uma mistureba com pitadas de bandas como Jota Quest, Skank, Barão Vermelho, Paralamas ou Kid Abelha, apimentadas pelo suíngue baiano de Ivete, de Daniela, do Babado, Asa ou Chicletão. Quem resiste?

DOMINGO (14/10)
Festa boa acaba no desmantelo! No domingo, pra fechar com chave de ouro, o pop-brega tomava conta do pedaço, com as introduções melodiosas de Inaldo e Paulo Rubens, Naninha e Zezo e o fechamento grandioso de estrelas como Fernando Mendes, Adilson Ramos, o Rei Reginaldo, Amado Batista e Waldick Soriano, por exemplo. Imagine uma presença internacionalmente brega, como Manolo Otero...

SÓ ISSO?
Claro que não. Uma das coisas interessantes desse modelo são as possibilidades de mudanças e adaptações constantes. Noite romântica com Roberto Carlos; de samba com Alcione, Zeca Pagodinho e Jorge Aragão; de Pagode com Inimigos da HP e Raça Negra; de forró (tradicional, eletrônico ou universitário); de ritmos latinos com Calypso e Capim Cubano. O que vejo é uma festa nova, diferente e oxigenada a cada ano.

VIABILIDADE
Mas será que uma festa dessa seria viável? Perguntarão alguns. Partindo do ponto de vista de que a Micarande deste ano, conforme divulgação da Prefeitura, teve 15 grandes atrações, dá que sobra. Mas há outros aspectos que devem ser levados em conta, como a existência de apenas uma estrutura de som e luz e não de dezenas de trios elétricos + um palco; a concentração da festa em apenas um espaço, diminuindo despesas de iluminação pública, segurança, transporte, sinalização e tudo mais; a possibilidade muito maior de negociação com os artistas, pelo evento ser multi-estilo e eles não poderem botar “pé no bucho”.

DESVIOS
E, finalmente, o que considero o mais importante: o Patrocínio! Na Micarande existe um fenômeno lamentável de patrocínio pirata, pois enquanto algumas empresas investem oficialmente na festa, outras, ilegalmente, se aproveitam da impossibilidade de controle para fazer merchandising e realizar vendas de forma alternativa. São bebidas, principalmente, mas também há outros produtos.

VANTAGENS
Numa festa como a que visualizo, com arena fechada e até as cercanias vigiadas, não há outra hipótese de associação de marca ou exclusividade de consumo que não seja “morrendo” com uma boa verba nos cofres da Prefeitura. A própria captação de patrocínios oficiais, em Brasília, seria menos complicada – pelo valor multicultural da festa – e, em se tratando de mercado comercial, desde que feita profissionalmente, seria exitosa na certa.

VANTAGENS II
São inúmeras, mas começam obrigatoriamente pela saída muito menor de grana da cidade. Logicamente os artistas receberão os seus cachês, mas só isso, sem direito a participação em lucros de blocos, aluguel de trios, carros-de-apoio, fabricação de abadás, patrocínios na fonte e outras gulodices financeiras.

VANTAGENS III
Gente bonita e bem vestida representa comércio aquecido. Nada melhor do que quatro dias de festa para vermos as lojas de roupas, calçados, acessórios, cosméticos e outras “necessidades” lotadas; as academias, clínicas de estética, salões de beleza abarrotados; os hotéis, pousadas, apartamentos de estudantes, restaurantes, lanchonetes, traileres e supermercados apinhados de gente. Campina em êxtase!

VANTAGENS IV
Com a transferência da festa para o segundo semestre, não só há um espaçamento maior entre os eventos do calendário, proporcionando maior tranqüilidade – ou menos dores de cabeça – aos organizadores, como, acredito eu, o ano poderia começar em Campina, como em todo o Brasil, depois do carnaval e não da Micarande, que, no mínimo, nos impede de “pegar o embalo”.

DESVANTAGEM
Não considero, mas alguns haverão de suscitar o fato de que a festa acontece em um período de efeverscência política, nos anos eleitorais, precisamente entre o primeiro e o segundo turno, já comuns na nossa Paraíba. Minha opinião é que o povo, a cidade, o comércio e, principalmente, o processo eleitoral não têm nada a ver com isso. Mas, se ajudar em alguma coisa, posso garantir que oferecer uma festança dessa à cidade exatamente nessa época será uma ótima maneira de reforçar a imagem.

É ISSO
Para aqueles que, de certa forma, me desafiaram a apresentar uma idéia subseqüente à minhas críticas, aí está. Para aqueles que criticam a Micarande por verem ou sofrerem os efeitos de sua decadência, espero que possa servir como base de discussão para uma proposta de consenso. E para os que defendem que a Micarande ainda é o modelo mais acertado de evento popular de rápida execução e atração turística para Campina Grande, um abraço!

AH!
E para não dizer que não falei das flores, a programação d´O Maior São do Mundo 2007 tá “pra arrombar”!!!
* O título desta coluna é o slogan da terceira Micarande, criados (o slogan e a festa) pelo "Mano" Lucas Sales.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

TÁ TUDO TRONCHO!

INFÂNCIA
A Semana Santa, na minha época de criança, era como se fosse o período “sério” do ano. As pessoas ficavam mais introspectivas, menos expansivas, falavam mais baixo e evitavam qualquer coisa que as fizesse parecer insensíveis ou más.

PROIBIDO
Quando chegava o meio da Semana, quase nada podia. Eu não podia brigar com minha irmã, o som da tv tinha que ser mais baixo, nem todos os discos podiam ser ouvidos e até as roupas, principalmente das mulheres, parece que saiam da moda por alguns dias. Ficavam maiores, mais escuras e mais pesadas, pois elas pareciam estar carregando algo mais que o tecido e as costuras em seus corpos.

TRISTEZA
Era um clima meio triste, onde as pessoas procuravam pensar na vida. Os adultos sempre reservavam algum tempinho para conversar entre eles e com as crianças sobre o que fazia aqueles dias serem diferentes. Em alguns casos era primordial a provocação da conversa pelas próprias crianças, curiosas sobre aquela cara de “preó” dos mais velhos.

FAMILIAR
Não tive muitas perdas familiares – embora as poucas tenham sido grandes – mas estas me fizeram perceber analiticamente o que se passava a cada mês de abril. Era como se alguém da família ou muito próximo tivesse morrido. Meus pais e outros adultos com quem eu convivia agiam como se algum tio não houvesse resistido a algum mal que o tivesse atingido de forma traiçoeira e dolorosa.

AURA
Não era só na minha casa que isso era perceptível, até porque nunca fomos muito fervorosos, mas em toda a cidade, que àquela época era minha inteira concepção de mundo. Na escola, no ônibus, no supermercado, nas casas dos amigos e parentes; em todo lugar tava todo mundo meio baixo astral. Até as rádios – TODAS! – mudavam inteiramente suas programações, algumas começando na quarta e outras só na sexta, mas sempre se estendendo até o domingo.

SELEÇÃO
Aliás, era um dos pontos altos da Semana Santa a seleção musical das rádios. Sou do tempo em que rádio fm era novidade, pela qualidade do som, então era um aspecto meio mágico daquela época o rádio mais novo da casa sempre ligado sobre o banco de cimento do quintal “tocando” as mais belas – e tristes – obras da música clássica. Brahms, Wagner, Lizt, Schumann, Chopin, Prokofiev e outros ilustres desconhecidos, para mim, transportavam-me para outras épocas e lugares, enquanto tentava brincar sem fazer barulho, sem chamar a atenção e sem parecer muito alegre.

MENU
Carne, nem pensar! Frango, de jeito nenhum! Porco, jamais! Peixe, e só. Vindo, basicamente, de João Pessoa ou Boqueirão e comprado na velha feira de peixes, entrando pela Vila Nova da Rainha. Mainha e Lourdes se desdobravam para conseguir criar ou repetir naqueles cinco dias – quarta a domingo, para nós, crianças, que não fazíamos jejum – receitas que quase nunca eram preparadas no restante do ano. E sempre tinha o comentário de alguém, à mesa: - Tá muito bom. Devíamos comer peixe mais vezes!

EXCEÇÃO
A alegria da família reunida em torno dos pratos diferentes era um dos poucos momentos descontraídos da Semana Santa da minha infância. No resto do tempo eu ficava meio “amuado”, pelos cantos da casa, achando meio injusto que não pudesse extravasar minha energia acumulada graças ao feriado escolar. Mas essa era, talvez, a minha única inconformidade com aquela época especial do calendário, porque eu era plenamente consciente do que havia acontecido para provocar aquele luto.

ELE
Pensar no sacrifício, que eu não entendia porque chamavam de paixão, de Jesus naquela época me deixava triste e imaginar as “ruindades” que tinham feito me davam pena dele. Logicamente eu não fazia idéia do sentido real do que Jesus passou, mas só de pensar que eu podia ter alguma culpa por aquilo eu já ficava meio “desconfiado”, como quando algum primo apanhava da mãe por eu ter arrancado as tiras de sua “japonesa”.

PROIBIDO
Não pode isso, não pode aquilo e nem aquilo outro. A Semana Santa, eu acho, era um período de paz para os adultos, que a usavam como desculpa para fazer as crianças se aquietarem; mas, por trás dessa paz estava a oportunidade perfeita para que os casais se tratassem melhor, que os patrões ficassem menos ranzinzas, que as pessoas lembrassem dos amigos distantes e, em plena ditadura, daqueles que haviam sido “levados”, em dois sentidos.

EM RESUMO,
houve uma época, há poucos anos, em que a Semana Santa era um período especial, em que os cristãos, membros de outras religiões não cristãs e até ateus paravam para pensar um pouco na dignidade humana e nos nossos valores individuais e sociais. Afinal, não importava a qual religião pertencêssemos, ou não, tínhamos notícia de que um homem, de carne e osso, como nós, havia sido massacrado publicamente por outros homens, como nós, unicamente por tentar disseminar a paz, a harmonia e o amor entre nós.

SENTIMENTOS
Por pena, culpa, medo ou simplesmente tristeza, todos entrávamos, naquelas semanas, em um estado de permanente reflexão. Mesmo eu, que não entendia direito a moral da história, me pegava, às vezes, agindo como aquele povo do Big Brother, meio se fingindo de bonzinho, porque na Semana Santa parecia que a frase “Deus tá vendo!” tinha maximizado o seu efeito.

PÁSCOA
O final da Semana Santa, no domingo, tinha um gostinho de alívio. A gente tinha a certeza que estava tudo certo, porque, apesar da “camada de pau” que tinham dado em Jesus, de terem-no pregado numa cruz de madeira e ficado perturbando o restinho de vida dele até que ele não mais resistisse, ele havia nos perdoado “pelas nossas ofensas” e mostrado que ia limpar nossa barra com seu Pai, pessoalmente.

RECOMEÇO
A segunda-feira depois da Semana Santa era como a volta de férias numa fazenda bem tranqüila, com direito a ouvir música de boa qualidade, pescar despreocupadamente em um “barreiro”, conversar de verdade com as pessoas mais próximas da gente e fugir um pouco das traquinagens da gurizada. Depois da lembrança da história daquele cara que “se lascou” pra mostrar o quanto podemos ser bons, de sentir o pesar pelo seu sofrimento e o alívio pelo seu perdão, estávamos todos prontos pra retomar a vida e o fazíamos com o coração revigorado, a cabeça fria e o corpo mais saudável.

FIM
O tempo foi passando e fomos vendo, pouco-a-pouco, uma mudança lastimável no “evento” Semana Santa. A indústria, em sua insaciável sede de crescimento, e o comércio, com seu famigerado “tesão” por movimento, vendas e lucro, a desvirtuaram completamente, transformando-a em mais um monstrengo mercadológico, que não serve para nada que não seja nos fazer gastar dinheiro.

VIA CRUCIS
Depois de muito bater pernas, em busca do bacalhau mais em conta, do peixe menos fedorento, do vinho que provoca menos ressaca e dos temperos e acompanhamentos que transformarão esses produtos em refeições que vão nos empanzinar, embriagar e engordar, é nas infindáveis filas dos supermercados que sofremos para conseguir trazer para nossas casas o “clima pascal”.

COELHINHO
Bem parecido com o que já fizeram o Papai Noel, suas renas, pinheiros, bonecos de neve, bolas coloridas e lâmpadas pisca-pisca, o tal coelho da Páscoa desbancou Jesus na parada de sucessos da Páscoa. Parece mais óbvio e menos trabalhoso aos gênios publicitários das multinacionais do cacau promover a imagem de um bichinho branquinho (sim, porque a Páscoa é racista e coelhos que não sejam claros estão fora), peludinho, fofinho, cheirosinho, dentuço e sorridente do que a de um homem magro, sujo, fedorento e ensangüentado.

CACAU
Há alguns anos o chocolate, bem como o iogurte, o leite em pó ou o refrigerante, não eram tão acessíveis quanto hoje. Agora ele – o chocolate – é o responsável por milhares de empregos no campo, nas fábricas, nas distribuidoras, nas lojas e nos supermercados, onde aquelas garotas e rapazes com suas pochetes cheias de bugingangas nos atendem com presteza e sorrisos e nos demonstram as diversas maneiras, em cores, tamanhos e sabores, de fazer esta semana mais doce e de como podemos fazer a média com o mundo.

MOEDA
O ovo de páscoa garante a criança mais quieta, a esposa mais gentil, os namorados mais carinhosos, os funcionários mais atentos, os amigos mais presentes e até a professora da escola mais atenciosa. Dar um ovo de páscoa simboliza que somos diligentes e zelosos com as pessoas das quais desfrutamos a amizade e a convivência. Também é, hoje, mais uma entre tantas formas de competição social, onde quem dá mais, tem mais retorno.

COTAÇÃO
Dar um ovo de número 15 significa que gostamos de alguém. Dar um ovo de tamanho 23 significa que aquela pessoa é muito especial. Dar uma cesta de Páscoa, com vários ovos de diferentes tamanhos, coelhinhos de chocolate, barras, bombons e até uma colomba – bolo que pretende ser o panetone da páscoa – é o mesmo que entregar o nosso coração em uma caixinha de papelão cor-de-rosa, enrolada com fita vermelha.

PIRANGAGEM
Agora se for pra dar ovo com numeração de nove abaixo, talvez seja melhor não fazê-lo, para não parecer que odiamos aquela pessoa e só estamos querendo demonstrar uma certa comiseração. Pode também parecer que estamos dizendo-lhe ser gorda e que estamos colaborando com a dieta. Ou, finalmente, que estamos falidos e que não deu pra comprar nada “melhorzinho”.

MARCAS
Há ainda a questão das marcas. Nestlé, Garoto e Lacta ainda são as que têm 100% de aceitação, sem falar em algumas, importadas ou de fabricação artesanal que são comparadas a obras de arte pelos mais abestalhados. Oferecer um ovo que não seja destas marcas pode significar outro sintoma da já falada “pirangagem” e dar a alguém um ovo daqueles caseiros, feitos com aquele chocolate baratinho da loja de festas e embalado com aquele papel genérico pode render um sorriso insosso e um muito obrigado em que não se percebemos nem que a boca do presenteado se abriu.

MODELOS
Como não bastasse a grife da fabricação, todo tipo de “personagem” agora tem o seu ovo. Não basta mais o ovo com o gosto daquele chocolate que você adora, tem que ter a embalagem nas cores e com as imagens do personagem do desenho animado ou do filme de sucesso, além, lógico, de conter no interior do ovo a “surpresa!” inspirada no personagem.

BUGINGANGAS
Surpresa é modo de dizer, porque o mais comum é procurar aquela mocinha linda para nos demonstrar a surpresa em todos os detalhes, justamente para que não tenhamos uma surpresa frustrante e o revendedor ou a fábrica não tenham surpresas desagradáveis com a insatisfação de consumidores buscando “trocar surpresas”. É um moído...

PÉSSIMO GOSTO
Muito embora algumas fábricas tenham entre os personagens que “assinam” seus ovos (ficou estranha a frase, mas é o jeito) figurinhas doces como a Moranguinho ou o Bob Esponja, há lançamentos completamente sem noção, como o ovo de páscoa do “motoqueiro fantasma”, onde o personagem-assombração figura sobre uma moto com sua cabeça de caveira em chamas. O brinde é um espécie de disco que sugere poder ser utilizado como arma! E tem a Hello Kitty, que provocou em mim uma dúvida clara: como ela comeria chocolate, se não tem boca?

ENFIM...
Essa páscoa vai ser triste para mim. Não tem mais Tchaikovsky tocando no rádio, não estou mais proibido de falar palavrões e nem precisei lavar apenas os pés antes de dormir. Talvez me convidem para um churrasco na sexta-feira santa e a tv exiba aquele filme policial onde um serial killer também come carne, humana. Na segunda-feira o comentário dos colegas vai ser o “arrastão” da Micarande, o forró na cidade vizinha ou a indigestão provocada pela mistura de bacalhau, cerveja e chocolate.

LEMBRANÇA
É quase certo que ninguém vai lembrar daquele cara magro e feio, que foi traído, julgado, açoitado, crucificado, torturado até a morte física e que ainda voltou pra tranqüilizar a gente antes de ir de uma vez para um lugar que imagino como se fosse aquelas plataformas que tem nas praias, com o letreiro “guarda-vidas”.

ÚLTIMAS PALAVRAS
Se fosse hoje em dia, eu imagino o que ele teria dito antes de ir: - Tá beleza! Não esquentem não que eu já falei pro meu Pai que vocês não tiveram culpa das besteiras que fizeram comigo. Tô indo agora conversar com Ele sobre a minha estada aqui e vou ficar por lá, cuidando de vocês. Mas se liguem, pra daqui a dois mil anos Ele não ter que ficar escutando vocês chamando por Ele porque o bacalhau tá caro, a fila tá lenta e os ovos de chocolate estão todos quebrados.

BOA PÁSCOA A TODOS, NO QUE LHES SIGNIFICAR “BOA PÁSCOA”!!!